O blog "A Fantástica Fábrica de Histórias" traz um tema que, na minha visão, preocupa todos os artistas de todas as classes: o bom uso do tempo. Em um mundo caótico e avassalador, onde fazer com que suas atividades sejam "espremidas" em um lapso temporal, quase tornando-se um artigo de luxo pra quem precisa cumprir metas e prazos, é a façanha do autor, poeta ou cantor bem resolvido.
Rascunhos de papéis misturados a cadernos, acompanhados de canetas de todas as cores começam a entrar em perigoso conflito (e digo, quase bélico) com o belo e modesto relógio de parede ou, recusam a convivência pacífica com o cronômetro contido no celular jamais esquecido sobre a escrivaninha. E o que é pior: parecem que todos os prazos delimitados pelas editoras viram monstros sugadores de toda a energia vital criativa, que roubam a concentração do escritor, quando este põe em importância sua pontualidade jamais menosprezada. Oh! Triste tempo que se pode contar! Que arrasa as construções e põe fim aos sonhos literários grandiosos.
Não quero mencionar que a escrita é a mais relevante das atividades. Mas o problema está em, com propriedade, saber que até a obra chegar ao grand finale estupendo, ela precisa de um manuseio apurado, ela deve seguir a métrica da sonoridade bem arranjada, daquelas de quem a conta como um acorde sinfônico melodioso, dependente de um tempo bem calculado para que as palavras não se atropelem no caminho da criação.
Eu vejo que este texto será menor que os que já fiz. É porque não tenho mais tanto tempo. Minha palavra de ordem é o agora. Neste espaço de um minuto, meus pensamentos seguem a trilha da reta final. A tarefa que chega precisa ser terminada. E só me resta o desejo de que cada ação tenha sempre um final feliz. Indo ao encontro necessito voltar e, nesta passagem, deixo um tantinho de mim, para que se faça a vontade do retorno. Preciso estar ao lado das pessoas, mesmo que eu não diga nem uma sílaba. A minha existência já se faz ser sentida e ouvida.
O vai-e-vem da composição encontra seus obstáculos na rotina do viver. É a campainha de onde se mora, anunciando um visitante caloroso. É a chaleira no fogão, esquentando a água que aquece o doce chazinho. É o passarinho que quer ser ouvido, batendo as asas pra sair do puleiro aprisionado. É o abraço do amigo, a tanto tempo tão querido. É o amor que tem pressa pra existir, o combustível de quem vai para ele se nutrir e, após, volta abastecido, pronto a escrever sua nova jornada.